A CRIATIVIDADE PRODUTIVA
“Sou muito criativo!” Este tem sido o
argumento-ás-de-trunfo que mais vezes tenho escutado ao longo destes
mais de 25 anos de contacto com jovens recém-licenceados em início
de carreira, sobretudo da área do marketing e do design.
Normalmente, serve como palavra chave para abrir o leque de
competências recém adquiridas, mas também é usado para fechar o
lote de promessas. Aliás, é muito lógico que isto aconteça, pois
sem essa mais valia, profissionalmente, todas os conhecimentos e
ferramentas adquiridas, de pouco irão valer. Até aqui tudo certo.
Na minha opinião, não sendo um requisito
obrigatório para se ser um bom profissional em muitas actividades, a
criatividade é uma característica que pode ser sempre útil,
sobretudo na resolução de problemas novos. Por outro lado, em
profissões ligadas à comunicação, à publicidade, ao marketing ou
ao design, a criatividade é imprescindível e obrigatória.
A criatividade enquanto faculdade exclusiva do ser
humano (até ver) tem ínumeras definições, mais ou menos
filosóficas, mais ou menos românticas, consoante o autor e a sua
perspectiva da vida e do mundo. No limite, sendo uma função da
mente humana, todos poderemos ser mais ou menos criativos. Porém,
tenho para mim, que o uso dessa capacidade como factor central de uma
actividade profissional, só por si, não chega.
Gosto particularmente da definição que resume a
criatividade: à capacidade inata de um indivíduo memorizar e
relacionar tudo o que o rodeia e a sua relação activa com esses
estímulos. Por outras palavras, juntar a curiosidade sem limites à
vontade insaciável de partilhar a sua visão própria e
potencialmente única.
Curiosamente, por brincadeira e em modo grafiti, há
cerca de quinze anos escrevi numa parede do meu local de trabalho a
seguinte frase: “Criar, é mergulhar fundo no poço das ideias e
voltar com uma que não estava lá.”. Nessa altura, a ideia era
mais para servir de estímulo ao ambiente criativo, do que uma
possível definição do caminho para o processo criativo. Contudo,
cada vez, estou mais convicto que aquela frase define um processo
incontornável do acto criativo nos nossos dias. Hoje, com a
facilidade de pesquisa e de acesso a milhões de conceitos, ideias,
soluções ou exemplos, por incrível que pareça, pode tornar-se
ainda mais difícil o desenvolvimento de um pensamento
verdadeiramente criativo. E sim, isto é verdade. Se por um lado o
acesso facilitado pode condicionar a originalidade do acto criativo,
ignorar a existência do que o resto do mundo produz, só com muita
sorte se poderá criar alguma coisa original e que não tenha já
sido desenvolvida por alguém do outro lado do mundo ou da rua ao
lado.
Posto isto, considero que actualmente, a base para o
desenvolvimento do processo criativo orientado para resultados,
assenta, não só na potencialidade que um indivíduo terá para ler
o mundo de forma disruptiva, mas também na curiosidade quase
obsessiva sobre a compreensão e entendimento de tudo o que o rodeia.
É esta fusão mágica que invariavelmente dá origem a excelentes
ideias e a conceitos que fazem a diferença.
Concluindo. Ser criativo e com isso poder ganhar a
vida, dá imenso trabalho, é fundamental gostar de tudo e querer
experimentar tudo, e, é também necessária a experiência
acumulada, depois sim, é obrigatório olhar para o mundo e conseguir
ver o que ainda não está lá. Mais, para uma actividade
profissional baseada na criatividade não há horário de entrada e
de saída, não há dia e noite, é sempre em modo: on.
Ser apenas criativo não basta. A criatividade
orientada para resultados requer muita paixão e dá muito, muito
trabalho.
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